27 de março, no auditório da Biblioteca Cinema Europa, foi onde se deu a apresentação lisboeta de Aye, poemas escoceses. Sala cheia, a sessão abriu ao som de Magical Mistery Tour, em lembrança de Abel Soares da Rosa, orador como representante da editora e autor de inúmeros livros sobre os Beatles. Abel assinalou que, com poetas escoceses como Burns, não estamos, afinal de contas, muito longe da Beatlemania, tal a adesão que a poesia de Burns tem tido nestes 200 e tal anos. De seguida, Conor Riordan, the Shortsleeve Conor, interpretou A Man’s a Man for a’ That de Burns, após o que Gonçalo do Carmo, com sua gaita de fole, entrou na sala, seguido de Carlos Oliveira Santos. Carlos disse a sua tradução de A Man’s a Man, para depois lembrar que Campo de Ourique foi o bairro de Pessoa, de Gedeão e de Fernando Assis Pacheco. De Assis, leu Regras para viver em Campo de Ourique:
« 1. Pratica a arte da boa vizinhança; estás numa terra pequena, não sejas opaco.
2. Dá o máximo de ti, pede aos outros o máximo. A escassez não vale uma vida.
3. O alheamento não vale uma vida.
4. Faz-te conhecer pelos gestos de todos os dias; mesmo os gestos neutros; mesmo os inúteis.
5. Não deixes de contrastar os homens sobre as pedras.
6. Saboreia os teus trajetos com uma paixão minuciosa,
7. Mas reserva-te para a surpresa e para o imprevisto (como no trabalho).
8. Vive direito. Vive claro. Evita enganar-te neste ponto.
9. Aceita os outros, que são sempre diversos.
10. Gostarias que de ti ficasse (mas qual?) uma memória. Em todo o caso não a forces.»
Carlos disse ainda os seus poemas uma declaração de Arbroath e deep soul song, anunciando depois Mariana Guimarães, que cantou, com Conor, a canção de Burns A Red, Red Rose. Uma maravilha.
Carlos foi referindo algumas das suas abordagens poéticas presentes neste livro, fiéis ao legado modernista de inovação formal e de experimentalismo, nomeadamente poemas visuais, o uso de geometria e de pautas musicais, poemas vazios, poemas ao contrário ou um poema com desenhos de Ana Fonseca. Umas palavras para as suas transfusões de prosa em poema, bem como para os riscos de páginas de outros autores, também praticados neste livro.
A alguns dos presentes foi pedida a récita de poemas. Manuel Oliveira Santos disse quadra floral e Carlos Galrão disse cadeia de união, numa alusão à fraternidade maçónica aludida no livro.
Soou de novo o som da gaita de Gonçalo, que entrou seguido por portador de uma travessa com um haggis. Fez-se, pois, o tradicional elogio do haggis, de Robert Burns, dito em português por Carlos. Conor ainda cantou Ae fond kiss, também de Burns e, para final, tocou-se e cantou-se Auld Lang Syne.
Carlos, Mariana, Gonçalo e Conor curvaram-se em agradecimento aos presentes. Enfim, uma festa escocesa em Lisboa!